Cuidado: criança em férias é um perigo
Cecília Valenza
Algumas crianças mais arteiras costumam carregar a vida toda, na forma de cicatrizes, as lembranças das férias. Nos meses do verão, quando os pequenos estão longe da escola, a incidência de acidentes envolvendo crianças cresce – e bastante. De acordo com Marcelo Ribas, cirurgião pediátrico do Hospital Cajuru, o número de atendimentos no pronto socorro infantil sobe 20 % nesta época do ano.
O principal vilão são as quedas, que representam 70% das ocorrências. Em seguida vêm as queimaduras e intoxicações. A incidência dos acidentes varia de acordo com o tempo e com o dia da semana. Quanto mais propício à brincadeira livre, maior a tendência de os machucados aparecerem. “Nos fins de semana e quando o tempo está bom os acidentes são mais freqüentes”, diz Ribas.
Levantamento do Ministério da Saúde, feito em 2004, mostra que os acidentes responderam por mais de 213 mil internações de crianças e jovens de até 19 anos no Brasil. Só em Curitiba, das 154 mortes decorrentes de acidentes registradas entre crianças de 0 a 14 anos em 2003 (dados mais recentes), 43 foram por obstrução das vias aéreas, 34 por acidentes de automóveis e 25 por afogamento.
Cuidados
O papel dos pais para evitar ferimentos nas crianças é fundamental. Não importa o tipo do acidente, mas 90% deles poderiam ser evitados se alguns cuidados básicos fossem tomados. “Na maioria dos casos, apenas um minuto de descuido por parte dos pais já é suficiente para que a criança se machuque”, diz a coordenadora regional da ONG Criança Segura, Alessandra Françóia. “Pais não tiram férias dos filhos, a supervisão e os cuidados devem ser em período integral”.
A maioria (80%) dos acidentes ocorre dentro de casa, por isso algumas adaptações na mobília e na estrutura são necessárias. “Muitos pais pensam que a criança deve se adaptar à casa, mas é o contrário. Mudanças como a instalação de grades nas janelas e portões na beira das escadas ajudam a evitar machucados”, afirma a presidente do Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Paranaense de Pediatria, Luci Pfeiffer.
Fases
Segundo Luci, a natureza do acidente também varia com a idade da criança. No caso dos bebês, são comuns as queimaduras causadas pela água do banho quente demais ou ferimentos decorrentes de queda da cama.
Já quando a criança chega a um ano, passa a levar qualquer objeto à boca. É nessa fase que o risco de ingestão ou asfixia de pequenos objetos é maior. Por isso, a recomendação é que ao comprar brinquedos, os pais observem a faixa etária indicada na embalagem e se o produto tem certificado de qualidade.
Por volta dos dois anos, a criança começa a subir em cadeiras, sofás e armários. “Nessa idade ela não tem noção de altura, não tem medo e, portanto, se aventura mesmo, diz Luci”.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica, Edílson Forlin, a maioria dos traumas ocorre nos membros superiores. “Na queda, a criança vai se apoiar e acaba fraturando o punho, o braço, ou a clavícula”. Foi o caso de Giovana Godoi, 8 anos. Quando ela tinha 4, estava brincando na sala de casa, resolveu subir no safá e caiu. Bateu num vaso grande e quebrou a clavícula. A garota teve de ficar com um colete de gesso por quase 1 mês.”O gesso ainda deu alegia nela. Demorou mais de um ano para o osso voltar ao normal”, conta a mãe Carolina. Forlin explica que, apesar de a criança ter uma recuperação mais rápida que a de um adulto, o risco de um posicionamento inadequado do osso depois da fratura também é maior por causa da presença da cartilagem de crescimento.
As escadas, janelas e sacadas, são um perigo, mas o lugar menos adequado às crianças continua sendo a cozinha. É lá que ocorre metade dos ferimentos em crianças. Queimaduras com gordura e líquidos quentes e cortes são comuns. Camila Teixeira da Silva, 10 anos, teve este tripo de problema nas férias de julho deste ano. Ela ficou sozinha em casa durante a tarde e resolveu fazer um chá. Esquentou água e quando foi pegar o açúcar bateu na xícara, derrubando o líquido quente na barriga. “Ela teve queimaduras de segundo e terceiro graus, ficou 4 dias internada e talvez tenha ainda que fazer uma cirurgia de reconstrução”, conta a mãe, Rosangela Teixeira da Silva.
É também na faixa dos 2 aos 4 anos de idade que ocorrem a maior parte das intoxicações causadas por medicamentos ou produtos de limpeza. Geralmente com embalagens coloridas e cheiros agradáveis, esses produtos despertam a curiosidade dos pequenos e muitas vezes podem ocasionar sérios danos à saúde.
Crianças com ais de 10 anos já se envolvem em brincadeiras mais perigosas como subir em árvores, escalar muros, brincar em Lages. Os meninos são os que mais se machucam.
Onde mora o perigo
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), 80% a 90% dos acidentes com crianças acontecem dentro de casa. A maioria deles poderia ser evitada se alguns cuidados básicos fossem tomados.
Piscina, Jardim e Playground
Lajes: nunca deixe que seus filhos brinquem na laje da casa. As quedas são sempre fatais.
Playgrounds: verifique se os equipamentos são apropriados para a idade de seu filho e fique atento aos perigos, como ferrugem, superfícies instáveis ou quebradas.
Pipa: ensine seu filho a empinar pipa só em lugares abertos e longe de fios elétricos.
Bicicleta: proteja seu filho com capacete apropriado, quando estiver sobre rodas.
Piscina: as crianças devem sempre ser supervisionadas por um adulto. Instale cercas de isolamento em todos os lados da piscina, com no mínimo 1,5 metro de altura, e portões com travas. No caso, de piscina infantil, esvazie-a imediatamente após o uso. Ela deve ser guardada virada para baixo e fora do alcance das crianças.
Banheiro
Para evitar queimaduras, teste a temperatura da água antes do banho.
Tranque o armário de medicamentos, vitaminas, anti-sépticos bucais e demais produtos que ofereçam perigo de intoxicação.
Guarde utensílios afiados e aparelhos como lâminas de barbear, tesouras e secadores de cabelo fora do alcance das crianças.
Mantenha o vaso sanitário fechado
Um simples descuido pode causar morte por afogamento. Por isso, supervisione sempre a criança durante o banho.
No Carro
Nunca deixe seu filho sozinho dentro do carro.
Instale uma cadeirinha para transportar a criança no banco traseiro. Crianças com menos de 12 meses e com peso abaixo de 9 kg devem ser transportadas de costas para o movimento do veículo.
Os cintos de segurança são desenhados para proteger os adultos ou crianças com mais de 1,45 m. Crianças menores que isso devem usar cadeirinhas ou suportes.
Sala
Instale grades ou redes de segurança em janelas e sacadas.
Mantenha vedadas as tomadas que não não estão em uso e proteja fios desencapados.
Mantenha em local alto e trancado as armas de fogo. A munição deve ser trancada em local separado.
Cuidado com móveis que tenham quinas afiadas. Mantenha-os longe de janelas e cortinas.
Quarto
Ao escolher brinquedos, sempre considere a idade, a habilidade da criança e busque sempre o selo do Inmetro. Evite brinquedos com pontas afiadas como flechas e os que produzem sons altos.
Berço: sufocações podem ser causadas por brinquedos, travesseiros e lençóis dentro do berço. As grades do berço devem ter no máximo 5 centímetros entre elas.
Cozinha
Mantenha fora do alcance das crianças fósforo, álcool, facas, objetos cortantes, produtos de limpeza e sacos plásticos.
Deixe baldes e bacias viradas para baixo. As caixas d`água devem ser fechadas.
Use as bocas de trás do fogão e vire o cabo das panelas para o centro.
Plantas tóxicas: remova plantas venenosas ou deixe-as inacessíveis para as crianças.
Reportagem retirada da Gazeta do Povo de 09 de janeiro de 2006
Mas lembrem-se .esses cuidados podem salvar uma vida....e duram uma vida toda.
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